Convocatória 2025

Virgínia Quaresma

Prémio de 1000€

Requisitos para concorrer:

Mulheres*

Residentes em Portugal

Sem Limite de idade

Textos em prosa, inéditos e escritos em português

Até 12.000 caracteres

(incluindo espaços)

*cis, trans, pessoas não bináries

Não te esqueças de fazer o download do nosso formulário. Envia-o juntamente com o teu texto para as7bonecas@gmail.com

VIRGÍNIA QUARESMA POR FATUMATA DJABULA, 2025

A Repórter das Vibrações

Virgínia Quaresma (1882-1973), natural de Elvas, no Alentejo, filha de mãe brasileira e pai alentejano, destacou-se no jornalismo de investigação tendo sido a primeira mulher jornalista profissional, em Portugal, numa altura em que mais de 2 milhões de mulheres eram analfabetas.

Pacifista e ativista, advogava a “favor do colectivo em detrimento do individualismo”, pelos direitos humanos, pela educação das mulheres e insurgia-se contra a violência, especialmente contra a violência doméstica e o feminicídio, flagelos sociais, no seu tempo como no nosso. Perante um caso de feminicídio, Virgínia, não se limitava a redigir a reportagem, ela acompanhava a investigação e divulgava o nome dos agressores nos jornais para os quais escrevia, contribuindo para que fossem levados à justiça. (Lousada 2022)

É apelidada pela revista ABC (1920-1932), “a repórter das vibrações”, porque galga a cidade à procura de “eventos e de sensações” e porque se coloca na “pele do entrevistado”, criando uma atmosfera de proximidade, sendo capaz de captar o seu íntimo. Para Quaresma, não existiam barreiras, chegava a pessoas de classes sociais diferentes e “entrava em todo o lado: sedes de Câmaras, Ministérios, bancos, sede do Governo, Bolsa (…)”. (Seixas 2022)

Contemporânea de Judith Teixeira, Virgínia era assumidamente lésbica, facto biográfico que é tendencialmente ocultado “nas referências que lhe são feitas” (Jesus 2022), trazendo à conversa o efeito lésbica-fantasma, que consiste no apagamento dessa dimensão da vida de figuras públicas - quando não no apagamento total da pessoa face à história. No caso de Quaresma, consiste “num reconhecimento público sobre a sua vida e, simultaneamente, num disfarce sobre a homossexualidade, preferindo tratar as suas amantes, com quem partilhava casa, como amigas, damas de companhia ou governantas.” (idem)

Assim como Virgínia fez a ponte entre jornalismo e ativismo, também nós queremos construir a ponte entre criação literária e ativismo. Pacifistas e pró-democracia, como Virgínia, é ela a inspiração, e é ao seu lado que avançamos, para a 3ª edição do nosso concurso neste inequecível ano de 2025.

Referências

Jesus, I. (2022). Nomear os interditos. Faces de Eva. Estudos sobre as mulheres, 47, 7-11

Lousada, I. (2022). Virgínia Quaresma nos trilhos da violência contra as mulheres. Convergência Lusíada, 33(47), 107-130.

Seixas, M.A. (2022). Uma mulher singular. Jornalista e feminista. Faces de Eva. Estudos sobre as mulheres, 47, 19-32.

CLAUDE CAHUN POR TAMARA ALVES, 2022

ESTADO DA ARTE

Se estórias que explorem o desejo feminino, escritas a partir do ponto de vista de uma mulher, são raras na nossa cultura; estórias à volta do desejo entre mulheres, escritas a partir do olhar feminino, são imperceptíveis em Portugal. 

Não é que não existam, antes que não estão visíveis, talvez porque não haja editoras, nem comerciais nem independentes, nem publicações, nem concursos literários, maioritariamente promovidos por grandes livreiros ou por instituições, que as considerem viáveis.

Assim, colocamo-nos numa posição de questionamento em relação às predileções mercantis: que tipo de estórias é que são reconhecidas, premiadas, publicadas, por que tipo de autores e para servir que ideias - enquanto assumimos uma posição de empoderamento e representatividade perante este universo outro.

Queremos ler estórias sobre relações entre mulheres com os seus vários desfechos possíveis, tantos quanto a variabilidade das vidas, queremos ler os textos, abstratos, surreais, expressionistas, que falam do caleidoscópio e da vertigem, da complexidade e da subtileza, da atração entre mulheres a operar num contexto não só heteronormativo como também androcêntrico.

As estórias refletem e criam cultura, são reflexo do poder e têm um poder desmesurado para criar mudança, com esta convocatória queremos que estas estórias, que têm ficado historicamente à margem, avancem agora para o centro.